GRE

Gustavo Cid (@_cgustavo)

Índice

Aqui estão todas as partes do guia, que você pode ler em qualquer ordem:

O GRE (Graduate Record Examinations) é uma prova padronizada, também elaborada pela ETS, que é exigida principalmente pelas universidades americanas para os programas de pós-graduação (mestrado e PhD). Dentre as universidades na Europa para as quais eu apliquei, a única que o exigia era a ETH Zurich (que foi a universidade que acabei escolhendo).

Antes de entrar em detalhes a respeito da prova e de como estudar para o GRE, é importante ressaltar que existe uma tendência por parte das universidades estrangeiras de retirá-lo do processo de aplicação. Isso significa que pode ser que quando você estiver lendo estes posts, o GRE não seja mais necessário para aplicar para o mestrado no exterior. Alguns departamentos famosos já se pronunciaram a respeito disso e nem pedem mais a prova, enquanto outros a tornaram facultativa.

Sendo bem sincero, na minha opinião, as "habilidades" medidas pela prova do GRE pouco têm a ver com o que é exigido de um estudante de pós-graduação. Enquanto o TOEFL iBT, que abordamos na última parte, visa medir suas habilidades de se comunicar em inglês (as quais são imprescindíveis para estudar e viver fora), a prova do GRE cobra conhecimentos sem muita relação com o que é estudado no mestrado e ainda demanda treino para resolver as questões em velocidade. Com certeza seria muito mais produtivo para a sua vida na pós-graduação se você pudesse substituir o tempo que você gasta se preocupando e estudando para o GRE por mais tempo de pesquisa, estudos de matérias que te interessam ou, na verdade, por qualquer outra atividade que você goste.

Entretanto, se o departamento no exterior que te interessa exige o GRE, você precisa dar o seu melhor e fazer a prova. Então, agora vamos ao que interessa.

Neste texto, falo exclusivamente do GRE General Test, que é a prova mais popular para o processo de aplicação. Existem GREs de algumas matérias específicas, que podem ser demandadas a depender da sua área, entretanto, não tenho experiência com nenhuma delas.

A prova do GRE (General Test) possui três partes, todas feitas pelo computador no local de prova. São elas a Quantitative reasoning, Verbal reasoning e Analytical writing. A grosso modo, a parte de Quantitative reasoning cobre conceitos de matemática básica, do nível do ensino médio. A de Verbal reasoning demanda leitura, interpretação de texto e vocabulário e a Analytical writing avalia sua escrita.

Se você, assim como eu, é da área de exatas, a parte de Quantitative reasoning é de longe a mais importante. Como ela cobre conteúdos de matemática básica, os programas esperam que você acerte praticamente todas as questões. As questões em si são bem simples no geral, mas acertar a maior parte ou todas elas demanda atenção e velocidade, então você precisa estar bem acostumado com a estrutura da prova e com a forma mais eficiente de se resolver cada tipo de problema. 

A parte de Verbal reasoning é difícil para estrangeiros e as universidades no exterior sabem disso, então não precisa se preocupar em gabaritá-la. Na minha opinião, o vocabulário cobrado é bem avançado, do tipo que você não utiliza com muita frequência no dia-a-dia. Além disso, as questões de interpretação de texto não são diretas, como as do TOEFL iBT, e exigem um entendimento mais profundo da relação entre os argumentos e extrapolações a partir do texto.

Já na parte de Analytical writing, você deve escrever 2 redações. A primeira é no estilo de uma dissertação, em que você recebe um tema e você precisa argumentar sobre ele. Essa redação é parecida com o tipo de redação que fazemos no vestibular. Já na segunda, você deve analisar um argumento, tentando discorrer sobre as eventuais falhas de lógica presentes.

Em uma dada prova do GRE, você deve encontrar uma seção de Analytical writing (isto é, contendo as duas redações que descrevi) e de 2 a 3 seções de Quantitative reasoning e Verbal reasoning cada. Preste atenção agora, porque esta parte é confusa, mas super importante.

A prova do GRE é adaptativa de uma seção para a outra de uma mesma parte. Isso significa o seguinte: vamos supor que na sua prova você tenha 2 seções de Quantitative reasoning; as questões que aparecem na sua segunda seção vão depender do seu desempenho na primeira seção; nessa situação, caso você vá muito bem na primeira seção, a sua segunda seção vai ser mais difícil, já que ele está querendo medir até onde você sabe do conteúdo; alternativamente, se você já não foi muito bem na primeira seção, a segunda não vai ser muito difícil, já que a prova já está assumindo que, pelo seu desempenho anterior, você erraria as questões mais complicadas. O mesmo vale para as seções da parte de Verbal reasoning.

O último detalhe que deve ser clarificado é o ponto de você encontrar de 2 a 3 seções de Quantitative reasoning e Verbal reasoning cada. A sua prova do GRE oficialmente tem apenas 1 seção de Analytical writing, 2 seções de Quantitative reasoning e 2 seções de Verbal reasoning, isto é, apenas essas seções contarão para a sua nota final. Entretanto, você muito provavelmente encontrará no dia da prova uma seção a mais de Quantitative reasoning ou de Verbal reasoning. Essa seção extra não contará para a sua nota, ela só estará lá para que a ETS teste algumas questões novas e saiba classificar seu nível de dificuldade para provas futuras. Todavia, não tem como você saber qual é a sua seção de teste, já que ela pode aparecer a qualquer momento.

Você precisa fazer todas as seções com a mesma seriedade, como se elas fossem contribuir para a sua nota. Isso pode ser bem ruim para a sua estabilidade emocional durante a prova. Como a seção extra é composta de questões que ainda estão sendo testadas, ela tende a vir desbalanceada, demasiadamente difícil ou demasiadamente fácil, e fazer com que você fique especulando se está indo bem ou mal. Tente não se preocupar muito com qual seção é a extra. Foque em seguir em frente e fazer o seu melhor.

A sua nota do GRE tem uma validade de 5 anos. Dessa forma, se você fizer a prova hoje, você pode utilizá-la por 5 anos contados a partir da data de hoje. O procedimento de envio da sua nota do GRE é semelhante ao do TOEFL iBT, isto é, você tem a opção de indicar algumas universidades até a véspera da prova para enviar a sua nota gratuitamente (com a mesma ressalva que fiz no post anterior) e você paga uma taxa para enviar sua nota para cada universidade adicional.

Minha experiência com o GRE

Eu tenho uma opinião forte sobre o GRE porque já estudei bastante e fiz a prova três vezes. Quero compartilhar alguns dos meus erros e, finalmente, recomendo como estudar para o GRE.

A primeira vez, fiz sem estudar, porque achava que, como dominava bem todo conteúdo da parte de Quantitative reasoning da época do ensino médio e falava inglês, já tinha chances de tirar uma nota boa. Bom, não foi bem assim...

Estudei bastante para a minha segunda tentativa e estava bem preparado, mas não estava em um dia muito bom quando fiz a prova e acabei não indo muito bem. Minha nota na segunda tentativa foi OK, mas não muito alta. Como eu já estava cansado de estudar para o GRE e a única universidade que o exigia na minha lista era a ETH Zurich, decidi não fazer a prova novamente naquele ano. Sabia que tinha uma aplicação forte nas demais partes, então acreditava que conseguiria compensar essa nota não tão alta (e deu certo).

Por fim, no ano passado, estava aplicando para o PhD e decidi refazer a prova. Estudei melhor com base em todos os meus erros anteriores e fui muito bem. Minhas notas foram:

  • Quantitative reasoning: 170 de 170

  • Verbal reasoning: 161 de 170

  • Analytical writing: 4.0 de 6.0

O que vou sugerir na próxima seção é a forma de estudo que acredito ter boas chances de funcionar. Porém, lembre-se sempre que, para ir bem na prova, não é só estar bem preparado. Vários dos meus amigos fizeram a prova e mais de um foi bem na primeira tentativa. Todavia, diria que a média de vezes que a maioria fez a prova até tirar a nota desejada foi entre 2 e 3 vezes. Dessa forma, tente se programar financeiramente e com a antecedência necessária para fazer a prova mais de uma vez, caso precise.

Como estudar para o GRE

O plano de como estudar para o GRE que sugiro aqui se encaixa melhor para pessoas que, assim como eu, sejam da área de exatas, isto é, que já tenham bastante familiaridade com praticamente todo conteúdo de matemática cobrado e para as quais a parte de Quantitative reasoning é a mais importante. Se você não se encaixa nesse perfil, também sugiro ler essa seção. Você certamente encontrará alguns pontos que vão te auxiliar na sua preparação.

O primeiro passo, assim como para a preparação para o TOEFL iBT que sugeri, é fazer um diagnóstico sob a ótica da prova. Logo, faça um simulado completo da prova do GRE, para que você veja do início ao fim o estilo das questões cobradas e identifique de imediato as áreas que você vai precisar estudar com mais afinco.

Além disso, antes de iniciar os estudos efetivamente, é importante saber bem as regras do jogo. Recomendo o site da ETS e o guia oficial do GRE para isso. Leia e entenda a fundo como a prova é estruturada, quanto tempo você tem por seção, quantas questões você deve encontrar, quais recursos você vai ter disponíveis no dia da prova e assim por diante.

Sabendo bem da estrutura da prova e tendo uma noção inicial de onde você está começando, é hora de colocar a mão na massa e estudar. Acredito que algo em torno de 3 meses seja um tempo bom para se preparar para o GRE.

Verbal reasoning

A parte de Verbal reasoning é bem desafiadora, principalmente por conta do vocabulário. Uma parcela significativa da prova cobra vocabulário diretamente, então se você não sabe o significado de parte das palavras, não tem estratégia de prova que te salve.

Se você é da área de exatas, o seu objetivo nessa seção é não ir super mal. Diria que tirar mais do que 150 (de 170 pontos) já seja o suficiente.

Existem alguns materiais de estudo que contêm uma lista extensa de palavras frequentes que caem na prova. Pessoalmente, já cheguei a estudar e tentar memorizar esses e esses flash cards, porém, acredito que exista uma abordagem mais interessante: ganhar vocabulário de uma forma orgânica, melhorando a sua capacidade de interpretação de texto simultaneamente.

Para tanto, recomendo duas coisas.

A primeira é ler e fazer os exercícios do livro "Word Power Made Easy: The Complete Handbook for Building a Superior Vocabulary", de Norman Lewis. Esse livro não está diretamente relacionado ao GRE, então as palavras ensinadas não necessariamente são as mais cobradas na prova. Porém, achei o método do livro intuitivo e fácil de seguir.

Ao longo do livro, são ensinadas diversas palavras, sempre contextualizando os seus modos de uso e suas origens. Como consequência, acontece de você encontrar no GRE palavras que você não aprendeu diretamente pelo livro, mas, por identificar o radical, você consegue ter uma noção razoável do seu significado e responder a questão. Acredito que seguir o livro seja um bom investimento para se comunicar melhor em inglês que vai além do resultado na prova do GRE.

Minha segunda sugestão é que você passe a ler mais textos com um nível de inglês parecido com o dos textos da parte de Verbal reasoning do GRE.

Uma boa fonte de textos é a The Economist. Tente ler diariamente artigos de lá e aprenda o significado de todas as palavras que você não conhece. Vá anotando as palavras em algum lugar e revise de tempos em tempos.

Por fim, no guia oficial do GRE veja alguns exemplos de questões cobradas e algumas estratégias de prova. No final, as questões de Verbal reasoning vão se resumir a vocabulário e interpretação de texto, então os passos anteriores são os mais importantes.

Se você quiser praticar mais para a parte de Verbal reasoning, recomendo o banco de questões da Magoosh. Fiz algumas baterias de exercícios por lá, apesar de ter usado extensivamente esse serviço principalmente para a parte de Quantitative reasoning e para realizar simulados, como discutirei mais adiante.

Analytical writing

Essa parte da prova pode até ser um diferencial se você tirar uma nota altíssima (acima de 5.0 de um total de 6.0). Todavia, o que costumo observar é que grande parte dos candidatos tira na faixa de 3.5 a 4.5 e isso já é mais que suficiente.

O objetivo nessa parte da prova também é tirar mais que o mínimo exigido pelo seu programa.

O guia oficial do GRE possui alguns exemplos de enunciados de redação bem como respostas comentadas. Tente, em um primeiro momento, se familiarizar com os dois tipos de redação cobrados. Em seguida, veja no guia algumas boas redações e tente identificar padrões nas boas respostas.

Use o vocabulário que você estudou para a parte do Verbal reasoning nos seus textos. Não que você deva complicar as suas redações com um vocabulário rebuscado, é importante ter cautela para utilizar as palavras corretamente. Uma redação bem estruturada com um vocabulário no "nível do GRE" é ideal.

Quantitative reasoning

A parte de Quantitative reasoning é a mais importante para quem é da área de exatas e você tem que tentar chegar o mais perto possível dos 170 pontos. Se você estiver aplicando para programas competitivos, tente tirar mais do que 165 pontos.

A palavra-chave para ir bem em Quantitative reasoning é velocidade.

Você precisa estar acostumado com os diferentes tipos de questões cobradas e saber como resolvê-las da forma mais eficiente possível. Para as questões fáceis, isso não é um grande desafio.

Porém, como mencionei anteriormente, as seções no GRE são adaptativas. Dessa forma, se você está mirando em uma nota alta, sua segunda seção de Quantitative reasoning vai conter algumas questões consideradas difíceis.

As questões consideradas difíceis não são extremamente trabalhosas, você só precisa estar acostumado com elas para que você identifique rapidamente qual caminho seguir. Para tanto, o segredo é praticar bastante e fazer muitos exercícios.

Pessoalmente, estudei por duas fontes.

A primeira, é a série de livros do Manhattan Prep de matemática. Os livros parecem estar indisponíveis na Amazon, então o link é só para você ver quais são eles. Eu não comprei nenhum, encontrei uma cópia digital na internet (que você certamente também consegue encontrar). Eu li rapidamente praticamente todos os livros, para identificar alguns macetes que poderia usar para resolver as questões mais rapidamente.

A segunda (e talvez mais importante) foi o banco de questões da Magoosh. Lá você encontra mais de mil de questões e videoaulas de todos os tópicos que podem aparecer no GRE. Não assisti a quase nenhuma videoaula, mas fazia baterias e mais baterias de exercícios por lá, principalmente com questões do nível difícil. Depois de fazer os exercícios, conferia rapidamente a solução proposta para todos, inclusive para os exercícios que tinha acertado, para ver se tinha encontrado a solução da melhor forma possível.

Lembre-se, você precisa treinar para ganhar velocidade e você precisa estar afiado principalmente nas questões difíceis, porque se você quer tirar uma nota bem alta, sua segunda seção de Quantitative reasoning vai estar cheia delas.

Simulados

Minha última sugestão de como estudar para o GRE é: faça simulados semanalmente para monitorar o seu progresso. Pessoalmente, fazia um simulado por semana aos domingos enquanto me preparava e, na semana anterior à prova, intensifiquei um pouco mais.

Os melhores simulados são os oficiais da ETS, que você consegue ter acesso ao adquirir o guia oficial, então deixe-os para o final da sua preparação para ter uma ideia mais clara de que nota você pode esperar no dia da prova.

A Magoosh também possui bons simulados. Se você pesquisar, você consegue encontrar alguns simulados gratuitos pela internet de outras empresas. Entretanto, na preparação para o GRE, os melhores materiais são pagos. Se você achar os materiais caros demais, tente combinar de dividí-los com algum amigo que também esteja se preparando para o processo.

Resumo

  • O GRE é uma prova padronizada exigida para a pós-graduação, principalmente pelas universidades americanas.

  • Existe uma tendência de deixar de exigir o GRE por parte das universidades, então confira se ele é necessário para o seu programa de interesse.

  • O GRE possui 3 partes: Analytical writing, Verbal reasoning e Quantitative reasoning. Se você for da área de exatas, a parte de Quantitative reasoning é a mais importante.

  • A prova do GRE contém mais de uma seção das partes de Quantitative e Verbal reasoning. Tais seções são adaptativas, ou seja, as questões que você encontra na sua próxima seção dependem do seu desempenho na seção anterior, isso, evidentemente, para as seções de uma mesma parte.

  • A sua nota na prova tem uma validade de 5 anos. O envio das notas é feito pelo site da ETS e, para enviá-la, você paga uma taxa por universidade.

  • Para ir bem no GRE, não é só estar bem preparado. Como a prova envolve velocidade, pode ser que você não esteja no seu melhor dia. Se organize financeiramente e com antecedência para fazer a prova mais de uma vez, se for necessário.

  • Existem inúmeros materiais relacionados ao GRE. Neste post, compartilho a minha visão de como estudar para o GRE da forma que deu certo para mim.

  • Como recurso geral, recomendo o guia oficial do GRE. Para treinar questões e fazer simulados, utilizei o Magoosh.

  • Para Verbal reasoning, aumente o seu vocabulário de forma orgânica, melhorando sua interpretação de texto simultaneamente. Leia "Word Power Made Easy: The Complete Handbook for Building a Superior Vocabulary" e artigos como os da The Economist.

  • Para Quantitative reasoning, pratique bastante e aprenda a resolver os exercícios da forma mais eficiente, principalmente os de nível difícil.

  • Faça simulados com frequência para avaliar o seu progresso.



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