Índice
Aqui estão todas as partes do guia, que você pode ler em qualquer ordem:
- Introdução
Sobre mim, como usar este guia e o papel do autoconhecimento.
- Requisitos
Documentos necessários, requisitos mínimos e o processo de envio dos documentos.
- Lista de universidades
Para quais e para quantas universidades aplicar.
- Notas e atividades extra-curriculares
Histórico escolar, indo além das notas e o peso de cada componente. ← Você está aqui
- Currículo (CV)
Como estruturar e escrever um bom CV e o formato sugerido.
- Statement of Purpose (SOP)
Como estruturar e escrever um bom SOP e o formato sugerido.
- Proficiência em inglês
A prova do TOEFL iBT e como se preparar.
- GRE
A prova do GRE e como se preparar.
- Cartas de recomendação
Para quem pedir, como pedir e como enviar.
- Conclusão
Comentários finais.
O histórico escolar é o documento que, sem dúvidas, todas as universidades exigem para o processo de aplicação.
Na minha experiência, o que as universidades no exterior desejam avaliar por meio do seu histórico é o seu comprometimento e desempenho ao longo do curso e as matérias relevantes para sua área de interesse que você cursou.
Um histórico de notas boas do início ao fim da graduação mostra que você sempre esteve comprometido com os estudos e está preparado para os cursos mais avançados do programa de mestrado.
O candidato ideal possui boas notas do início ao fim da graduação, resultando em um GPA (média das notas) alto. Porém, se você não é esse candidato ideal, não tem problema, existem formas de compensar notas não tão altas e de mostrar que você está sim preparado para o mestrado.
Primeiramente, lembre-se que, como falei anteriormente, o processo de seleção é holístico e as suas notas são apenas uma das peças do quebra-cabeça. Um candidato com apenas notas muito altas não tem uma vantagem significativa e ele pode até estar em desvantagem, caso esse seja seu único ponto forte. Notas boas, mas não perfeitas, no geral já são o suficiente.
Caso você tenha algumas notas muito baixas (e reprovações), você vai precisar focar bastante nas outras áreas da aplicação. Para compensar essas notas, você pode mostrar sua experiência de pesquisa com publicações, uma nota muito alta no GRE, cartas de professores que enfatizem sua aptidão na sua área de interesse etc.
Segundo ponto importante: as matérias que você cursou e a tendência das suas notas importam bastante. O que quero dizer é que se você não tem um GPA tão alto, mas cursou várias matérias da sua área de interesse (possivelmente até algumas do programa de pós-graduação da sua universidade no Brasil) e foi bem nelas, isso é um ótimo sinal. Com certeza esse perfil pareceria mais atrativo do que o de um candidato que tem o GPA muito alto, mas só cursou matérias fáceis e pouco relacionadas com o que ele deseja seguir estudando no mestrado.
Com relação à tendência das suas notas, é muito melhor que elas tenham um perfil ascendente. O início da graduação é um período confuso, em que você ainda está se adaptando ao novo ritmo de estudos. É normal não ir tão bem no início do curso. Dessa forma, é interessante que suas notas venham aumentando com o passar dos semestres, a medida que você cursa as matérias mais relacionadas com o seu curso e com o que você realmente quer continuar estudando.
O Statement of Purpose, do qual falaremos em mais detalhes em uma parte futura, pode ser usado para comentar e justificar algum ponto forte ou fraco do seu histórico escolar. Nele, você pode destacar os cursos avançados da sua área que você fez, justificar algum semestre muito atípico de notas baixas por conta de problemas pessoais, contar a história de alguma matéria que mudou sua perspectiva e fez você decidir seguir determinada área etc.
Não fique desesperado ao ler fóruns na internet, acredito que os GPAs nas universidades brasileiras sejam consideravelmente mais baixos que o das universidades em outros países, como nos EUA. Cada país tem suas peculiaridades em termos de notas, então não se preocupe tanto com a nota em si. Dê o seu melhor e esteja ciente dos seus pontos fortes e fracos.
Quando estava no início da graduação, tive a sorte de encontrar um livro que influenciou profundamente minha relação com a universidade. O livro se chama "How to Become a Straight-A Student: The Unconventional Strategies Real College Students Use to Score High While Studying Less" de Cal Newport. O título do livro é um pouco provocativo. Eu segui boa parte das estratégias do livro ao longo da graduação e acredito que me destaquei bastante academicamente (apesar de certamente não ter sido "studying less").
Se você está na graduação, essa é a minha recomendação de leitura mais forte. Porém, também recomendo todos os outros livros do Cal Newport. Já li quase todos e cada um teve uma influência diferente na minha concepção de produtividade.
Aqui estão os links dos demais livros que li, ordenados pela minha preferência:
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"Deep Work: Rules for Focused Success in a Distracted World" (ou sua versão em português);
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"So Good They Can't Ignore You: Why Skills Trump Passion in the Quest for Work You Love";
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"Digital Minimalism: Choosing a Focused Life in a Noisy World" (ou sua versão em português).
Tradução do histórico escolar
No geral, as universidades no exterior vão exigir que o histórico esteja em uma das línguas por ela indicadas, sendo a mais recomendada frequentemente o inglês. Além disso, caso o histórico não seja emitido originalmente em uma das línguas indicadas, deve-se fazer uma tradução juramentada.
Minha recomendação é de, primeiramente, verificar com a sua universidade no Brasil se ela consegue emitir o seu histórico em inglês. No departamento de Engenharia Elétrica da UnB (onde estudei), por exemplo, isso é possível. Caso esse seja o caso, você não precisa pagar um tradutor juramentado para realizar a tradução.
Fique atento ao fato de que algumas universidades no exterior requererem o envio do histórico em português e em inglês.
Não sou pago para fazer propaganda, mas quando precisei de traduções juramentadas (para outros documentos, como o diploma), utilizei o serviço da Interpretando. Eu realmente gostei muito do serviço: você escaneia e envia o documento pelo site, eles te passam o orçamento e alguns dias depois o documento traduzido está pronto e você pode buscá-lo no escritório deles (no caso, eles têm sede em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro).
Indo além das notas: pesquisas, monitorias e estágios
Vou começar esta seção com uma discussão a respeito do real desafio de ser um candidato forte para os principais mestrados do mundo: o equilíbrio. Conseguiria passar horas e horas discutindo sobre a noção de equilíbrio na vida, porque realmente acredito que essas ideias (assim como autoconhecimento, que falei na primeira parte) são muito mais importantes do que para os processos de admissão do mestrado.
Se você focasse toda a sua energia e atenção apenas nas suas notas, acredito que você conseguiria manter um GPA quase perfeito. Porém, o que aconteceria nesse cenário?
Você provavelmente não ia ter tempo para fazer pesquisa, você não teria tempo para fazer um estágio, você não teria tempo para os seus hobbies e talvez você nem tivesse amigos. Eu, pessoalmente, não queria ser assim.
Por outro lado, se você dedicasse quase todo o seu tempo a uma outra atividade, por exemplo, à empresa júnior, você se acharia importante dentro da empresa, mas as suas notas cairiam muito. Isso também não é bom.
O desafio é ser uma pessoa equilibrada. Ter equilíbrio vai muito além de “se vender” como um bom candidato para o mestrado.
Projetos de pesquisa
O mestrado costuma ser um programa acadêmico, então é melhor que você se mostre como uma pessoa equilibrada, mas também orientada academicamente. Dessa forma, para um mestrado acadêmico, as melhores atividades extracurriculares de longe são os projetos de pesquisa.
Minha sugestão é, então, começar a fazer pesquisa o mais cedo possível e levar isso a sério. Fale com os seus professores, demonstre interesse e se dedique. Não seja o aluno que começa, mas não termina o projeto. Entregue resultados. Se você conseguir publicar um artigo em alguma conferência ou periódico da área, melhor ainda! Se você conseguir publicar na conferência ou periódico mais respeitado da sua área, acredito que você já esteja com um pé dentro da sua universidade favorita (caso suas demais áreas da aplicação não sejam discrepantes).
Os projetos de pesquisa são também uma ótima oportunidade de conhecer os seus professores. Eles podem te dar conselhos valiosos sobre as tendências na sua área e sobre a vida em geral, uma vez que eles já passaram por aquilo.
Muitos já devem ter tido alguma experiência no exterior e eles podem te passar suas respectivas impressões gerais. Além disso, eles serão os responsáveis por escrever suas cartas de recomendação, que são uma parte importantíssima do processo de admissão.
No Brasil, temos o programa de iniciação científica do CNPq, em que os alunos de graduação conseguem fazer pesquisa recebendo bolsa. No exterior, de forma geral, é bem mais difícil de ter oportunidades de pesquisa como essas, ainda mais remuneradas por um órgão nacional como o CNPq.
Dito isso, recomendo tirar proveito dessa oportunidade para tentar se destacar em relação aos candidatos internacionais. Quando você estiver preparando a sua aplicação, demonstre que você, mesmo na graduação, já possui alguns anos de experiência de pesquisa financiada por um órgão nacional de fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico.
Em suma, recomendo fortemente participar de projetos de pesquisa ao longo da graduação: se os projetos forem de iniciação científica financiados e você conseguir publicar, parabéns, esse é um excelente ponto de destaque na sua aplicação; caso contrário, vai ser uma boa experiência para refinar os seus interesses e conseguir possíveis boas cartas de recomendação.
Monitorias
Outra atividade que demonstra bem sua orientação acadêmica são as monitorias.
Na minha experiência, nas universidades brasileiras, é bem mais fácil conseguir ser monitor como um aluno de graduação do que em muitas universidades estrangeiras. Dessa forma, essa é outra atividade que pode te destacar em relação aos demais candidatos internacionais.
A monitoria será uma atividade que entrará no seu currículo e que contará positivamente para a sua aplicação, mas sendo monitor das matérias certas, ela serve um papel muito mais amplo que esse.
Quando você é monitor, você é forçado a rever o conteúdo que você aprendeu. O que eu senti é que você consegue desenvolver um entendimento muito mais profundo daquele conteúdo quando você está revisando em um contexto mais informal e relaxado, sem a pressão das provas e de muitas matérias competindo pela sua atenção.
Esse entendimento mais profundo não só te ajuda a entender melhor determinada área e refinar seus interesses, como também acaba influenciando diretamente o seu desempenho nas matérias subsequentes do seu curso que dependem daquele conteúdo.
Outro ponto importante: ser monitor pode te ensinar algumas das soft skills que são importantes para a vida, dentre elas falar em público e trabalhar em equipe.
Pelo menos quando eu estava na graduação, ser monitor de uma matéria poderia significar várias coisas diferentes, a depender do professor responsável e da matéria. Sua responsabilidade como monitor poderia ser corrigir relatórios/listas de exercício, auxiliar os alunos nos laboratórios, conduzir plantões de dúvidas e dar aulas que complementassem o conteúdo dado pelo professor ou uma combinação de algumas das atividades anteriores.
Levando em conta a influência que as monitorias podem ter na sua trajetória acadêmica e a variabilidade nas responsabilidades do monitor, eu escolheria as monitorias de forma sistemática.
No início do curso, escolha ser monitor de matérias que servem como base para grande parte das matérias do seu curso. No meu caso, fui monitor de Cálculo 1, 2 e 3 no semestre seguinte ao que cursava cada uma dessas matérias, porque sabia que elas serviam de base para várias das matérias que cursaria no departamento de Engenharia Elétrica no futuro.
Se você já estiver mais avançado no curso, escolha ser monitor das matérias da(s) área(s) que te interessa(m).
Você até pode ser monitor de uma mesma matéria por vários semestres diferentes, mas acredito que boa parte dos benefícios decresçam rapidamente com o passar dos semestres.
Independentemente da sua posição no seu curso, priorize monitorias que envolvam habilidades interpessoais (como dar aulas, plantões ou auxiliar os alunos nos laboratórios) e que te deem mais contato com o professor responsável.
Por mais que você também colha benefícios corrigindo relatórios/listas de exercício, na minha experiência, essas monitorias costumavam ser mais monótonas e me forçavam bem menos a refletir sobre o conteúdo. Se você mantém boas relações com o professor responsável, ele também pode ser o responsável por lhe dar uma boa carta de recomendação no futuro.
Estágios
Estágios podem ser uma ótima atividade para demonstrar seus interesses. O problema é que, no Brasil, não temos tanto a cultura de fazer estágios apenas durante as férias.
O estágio durante o semestre pode prejudicar um pouco o seu foco no semestre, então caso você possa fazer estágios nas férias (os programas de summer), melhor!
Agora, quando o que você faz no estágio é relevante para o mestrado? O ideal é que você procure empresas que levem os estagiários a sério e que o seu estágio sirva para você aprender coisas novas e melhorar suas skills.
Estágios em que você fica atolado em atividades administrativas são muito ruins, porque você vai estar só perdendo o seu tempo e eles não vão acrescentar em nada à sua aplicação.
Conheço alguns estudantes brasileiros que fizeram estágio em grandes empresas no exterior durante as férias. Acredito que esse tipo de estágio seja perfeito, porém, é claro, eles costumam ser bem competitivos.
Não posso falar dos estágios por experiência pessoal. Durante a graduação, não fiz estágios, por mais que até tenha aplicado para alguns poucos estágios de verão no Brasil e no exterior. Foquei bastante nas atividades acadêmicas, participei de projetos de pesquisa e fui monitor de algumas matérias. Moldei minha graduação dessa forma, porque já pensava na possibilidade de fazer o mestrado no exterior no futuro.
Resumo
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Suas notas são importantes para o processo de aplicação, mas são apenas uma das peças do quebra-cabeça.
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Existem várias formas de compensar notas não tão altas. Por exemplo, é interessante mostrar que suas notas estão subindo com o passar do tempo ou que você cursou matérias relevantes para a sua área de interesse (possivelmente até matérias do programa de pós-graduação da sua universidade no Brasil).
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O histórico escolar deve ser fornecido em uma das línguas indicadas pela universidade no exterior. Caso sua universidade não emita o histórico em uma dessas línguas, você precisará de uma tradução juramentada.
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Para fortalecer sua aplicação, é super importante participar de atividades extracurriculares, destacando-se as pesquisas, monitorias e estágios.
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Os projetos de pesquisa são as melhores atividades para os programas acadêmicos. Tire proveito da facilidade de fazer iniciação científica no Brasil.
**Próxima parte: Currículo (CV) **Como estruturar e escrever um bom CV Continuar →