Índice
Aqui estão todas as partes do guia, que você pode ler em qualquer ordem:
- Introdução
Sobre mim, como usar este guia e o papel do autoconhecimento.
- Requisitos
Documentos necessários, requisitos mínimos e o processo de envio dos documentos.
- Lista de universidades
Para quais e para quantas universidades aplicar. ← Você está aqui
- Notas e atividades extra-curriculares
Histórico escolar, indo além das notas e o peso de cada componente.
- Currículo (CV)
Como estruturar e escrever um bom CV e o formato sugerido.
- Statement of Purpose (SOP)
Como estruturar e escrever um bom SOP e o formato sugerido.
- Proficiência em inglês
A prova do TOEFL iBT e como se preparar.
- GRE
A prova do GRE e como se preparar.
- Cartas de recomendação
Para quem pedir, como pedir e como enviar.
- Conclusão
Comentários finais.
De forma geral, a avaliação da sua aplicação para o mestrado no exterior é feita por um comitê, composto por funcionários administrativos e professores do programa para o qual você está aplicando. Esse processo é feito de forma separada para cada programa e, às vezes, ainda é feito separadamente para cada especialização dentro de um mesmo programa. Isso significa que, se você está aplicando para o mestrado em Engenharia Elétrica na especialização Telecomunicações, seus documentos provavelmente serão avaliados por um comitê específico dentro do departamento de Engenharia Elétrica com alguns professores da área de Telecomunicações. O que quero enfatizar é que, ao aplicar para o mestrado no exterior, você não está aplicando para uma universidade, mas sim para um programa específico dentro da universidade. É importante fazer essa distinção para que você saiba como se “vender”, mantendo sempre em mente quem é o público-alvo da sua aplicação.
Esse comitê vai ler tudo o que você forneceu, isto é, todos aqueles documentos que foram especificados. Vão ler seu SOP, seu CV, suas cartas de recomendação, vão olhar suas notas na graduação etc. Tal comitê fará isso para todos, ou pelo menos para a grande parte dos candidatos. É nesse momento que entra em ação o fator humano, introduzindo a aleatoriedade ao processo.
O comitê tem que lidar e processar uma pilha gigantesca de aplicações e ler centenas ou até milhares de SOPs e recomendações. Pode ser que o avaliador esteja simplesmente em um dia ruim e que não preste tanta atenção em alguma parte do seu SOP e, por conta disso, você não aparente ser um forte candidato para a admissão. Por outro lado, pode ser que o avaliador esteja descansado e que seu perfil cause uma boa primeira impressão, fazendo com que o avaliador fique extremamente empolgado com o que leu e recomende fortemente sua aceitação.
Evidentemente, tais funcionários e professores são treinados e estão acostumados com o grande volume de aplicações a serem avaliadas, contudo, no fundo, você sempre estará sujeito ao fator humano. O processo de admissão nem sempre é justo e você deve simplesmente aceitar esse fato, porque essa parte está totalmente fora do seu controle e não há nada a ser feito.
Surge, então, a pergunta: existe alguma forma de tentar minimizar essa aleatoriedade? Felizmente, a resposta é sim! A estratégia que é seguida pela maioria das pessoas é a de aplicar para várias universidades simultaneamente. Dessa forma, caso você seja um candidato forte e com uma aplicação bem elaborada, você pode acabar dando azar no processo de admissão de alguma(s) de suas universidades, mas você provavelmente não vai dar azar em todas. Você minimiza a chance de não ser aceito em nenhum mestrado no exterior à medida que aumenta o número de universidades para as quais você aplica.
Conheço pessoas que não seguiram essa estratégia e foram bem sucedidas. Entretanto, eu, pessoalmente, não quis assumir esse risco. A maioria das pessoas que eu conheço aplicou, no mínimo, para mais de 4 ou 5 lugares. Conheço pessoas que levaram essa estratégia bem a sério e aplicaram para mais de 20 universidades diferentes e foram aceitas em várias (mas não em todas).
A ideia é muito simples: independentemente de quão forte seja o seu perfil, você pode sempre ser rejeitado por uma universidade devido a fatores fora do seu controle. Assim, ao aumentar o número de universidades para as quais você aplica, você diminui a chance de não fazer o mestrado no exterior.
Para quantas universidades aplicar?
A quantidade de universidades que você vai aplicar é muito pessoal. Você deve lembrar que nem todos os documentos que você deve enviar são produzidos por você mesmo. As cartas de recomendação, por exemplo, são fornecidas por seus professores e você tem que conversar com eles para ver o trabalho que eles estão dispostos a ter para te ajudar. Nem todos os professores teriam a paciência de enviar cartas de recomendação para 20 universidades diferentes. Esse é um ponto a ser levado em consideração.
Muitas universidades (eu diria, a maioria) cobram uma taxa para o envio dos documentos (chamada de application fee). Você tem que ponderar quanto dinheiro você está disposto a gastar nesse processo. O envio das notas do TOEFL iBT e GRE também é pago, então para quanto mais universidades você decidir aplicar, mais você vai gastar.
O último ponto é o trabalho que você terá personalizando o seu SOP e alguns outros documentos para cada universidade. O SOP deve ser individual para cada universidade e incluir justificativas únicas, que sustentam sua motivação para o programa de mestrado em questão. Depois que você aplica para uma universidade, o trabalho marginal exigido para aplicar para outras é relativamente baixo, então não acredito que essa seja uma grande barreira. Acredito que os dois primeiros pontos são mais limitantes do que esse último.
Se me perguntassem para quantos lugares aplicar, eu recomendaria aplicar para aproximadamente 10 universidades diferentes. Caso você esteja inseguro com o seu perfil, pode ser interessante aplicar para um pouco mais. Caso esteja bem confiante, pode aplicar para um pouco menos.
Inicialmente, eu estava planejando aplicar para muitos, muitos lugares. Eu estava disposto a preparar com cuidado todos os documentos e estava disposto a gastar o dinheiro com o envio das aplicações. Porém, percebi que eu não estaria satisfeito em estudar em muitas dessas universidades. Eu nem tinha pesquisado em detalhes a respeito de muitos desses programas de mestrado e nem saberia dizer se eles seriam adequados para os meus objetivos. Quando percebi isso, cortei significativamente o número de universidades para as quais iria aplicar e decidi focar apenas em lugares que sabia que atenderiam às minhas expectativas e que estaria satisfeito em estudar.
Acabei fechando uma lista de 7 universidades, todas na Europa. Em seguida, dentre essas 7 universidades, fiz uma lista de qual seria minha ordem de prioridade caso fosse aceito em todas. Fui aplicando, uma por uma, a medida que o período de aplicações abria. Quando terminei de enviar 5 das 7 aplicações, já havia sido aceito em 2 universidades. Uma das universidades na qual eu tinha sido aceito estava à frente, na minha lista de prioridades, das 2 universidades que ainda não havia aplicado. Dessa forma, decidi não gastar mais tempo com as aplicações e finalizei o processo tendo aplicado para apenas 5 universidades.
Para quais universidades aplicar?
O ponto principal é: você só deve aplicar para os lugares que você estaria satisfeito em estudar. Caso contrário, por que aplicar para lá em primeiro lugar?
Uma boa forma de começar a lista de universidades é a partir dos rankings para o seu curso. Algumas pessoas não se importam muito com os rankings e eu concordo que algumas vezes eles podem ser superestimados. Entretanto, eles certamente não podem ser totalmente negligenciados. A reputação da universidade onde você estudou acaba regendo o tipo de oportunidades que você vai ter no futuro. Os rankings devem ser levados ainda mais em conta caso você planeje trabalhar imediatamente após o mestrado. O “selo” de uma universidade de elite no seu currículo abre várias portas.
Os rankings mais populares são o QS World University Rankings e o Times Higher Education. No QS World University Rankings, você pode ver rankings específicos para o seu curso e aplicar uma série de filtros para ver o ranking de universidades por continente, país etc. No Times Higher Education, não estão disponíveis todos os cursos, apenas algumas grandes áreas. As engenharias, por exemplo, caem na categoria Engineering & Technology e não é possível ver os rankings separados de Engenharia Elétrica, Civil, Mecânica etc. como no QS World University Rankings.
Caso você esteja interessado em aplicar para os EUA, recomendo fortemente seguir, principalmente, o US News Rankings. Esse é o ranking mais popular para as universidades dentro dos EUA e, nele, ainda é possível ver qual a média do GRE, a média de notas da graduação, quantos alunos são admitidos por ano em cada universidade. Para ter acesso ao ranking completo do US News Ranking é preciso pagar uma anuidade (apesar de ser possível encontrar algumas de suas versões na internet).
Após selecionar algumas universidades a partir desses rankings, é interessante pesquisar o programa de mestrado de cada uma delas individualmente. Nessa pesquisa, você poderá ver quais são as áreas de especialização possíveis, quem são os professores de cada uma das áreas, quais são os laboratórios de pesquisa que estão vinculados ao programa que te interessa, quais são as matérias que você deve cursar, dentre outros. Você vai acabar percebendo que nem todas as universidades que você selecionou pelo ranking possuem programas que te interessam. Às vezes, as linhas de pesquisa dos professores não se encaixam com os seus interesses ou o programa é demasiadamente focado em pesquisa ou demasiadamente focado no mercado de trabalho, dentre outros inúmeros fatores.
À medida que você refina sua lista de universidades, é importante que você saiba, cada vez mais a fundo, o que te interessa em cada uma delas. É a pesquisa de um laboratório específico? É a estrutura do programa de mestrado, com as matérias, oportunidades de estágio e a tese? É a pesquisa de um ou mais professores em especial? Esses pontos serão extremamente importantes para a elaboração de uma boa aplicação.
Quando você terminar esse processo de seleção das universidades, é interessante que você tenha uma lista que inclua universidades nas seguintes categorias:
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Ambitious: universidades que são mais competitivas ou que você acredite que estão um pouco acima do seu perfil. São as universidades que você tem menos chance de ser aceito;
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Reach: universidades que se encaixam bem com o seu perfil. Você deve ter boas chances de ser aceito nelas;
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Safe: universidades que você provavelmente será aceito sem grandes dificuldades.
Elaborando sua lista de universidades dessa forma maximiza suas chances de sucesso. Enfatizo, aqui, novamente, que é fundamental que você saiba justificar o porquê de você aplicar para cada uma das universidades na sua lista. Quando digo justificar, quero dizer justificar em um nível mais profundo do que os rankings. Você nunca deve dizer que aplicou para uma universidade simplesmente porque ela é uma universidade de excelência. No fundo, essa pode até ser sua justificativa, mas você não deve falar isso na sua aplicação. Você tem que achar especificamente no seu programa pontos que genuinamente te interessam e que justificam sua aplicação. As universidades que estão no topo do ranking sabem bem a posição que ocupam e você repetir isso na sua aplicação não acrescenta em nada. Boas justificativas incluem: a pesquisa de alguns professores ou de um laboratório que encaixam com seus interesses, a estrutura do programa que atende bem aos seus objetivos, as conexões da universidade com empresas, a cultura da universidade etc. Os rankings podem ser uma motivação inicial, porém você precisa de mais do que isso para soar convincente.
Resumo
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Quanto maior o número de universidades que você aplica, menores suas chances de dar azar e não fazer o mestrado no exterior;
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Seria interessante aplicar para aproximadamente 10 universidades diferentes. Mais do que isso se você estiver receoso e menos do que isso se você estiver confiante;
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Os rankings podem ser um bom guia inicial para a elaboração de uma lista de universidades;
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Pesquise a fundo os programas que te interessam e identifique laboratórios, grupos de pesquisa, professores, detalhes na estrutura do programa etc. que te motivam a aplicar. Tente conectar suas experiências passadas e presente com as suas ambições futuras e o que é feito na universidade;
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Aplique para universidades nas categorias ambitious, reach e safe;
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Nunca fale na aplicação que você está aplicando para uma universidade só porque ela ocupa uma posição elevada no ranking (por mais que essa possa ser sua real motivação).
Próxima parte: Notas e atividades extra-curriculares: o peso de cada componente